domingo, 30 de setembro de 2018

Relógios

Procuro música que cante de nós
mas sou incapaz de achar voz
de tanto amor e tom errado
que abre a porta e se inconforma 
com cabelo bagunçado.
Não há sombra que ande mais perto
que essa luz que me guia de longe
à loucura de um bando de loucos
e à pureza na paz da manhã de um monge.

Correr não é como correr só.
Mesa vazia não faz comer só.
Faço de mim lar do que é bom.
Na natureza busco meu som.
Acho que isso é dom e que é só seu:
fazer eu sentir em você
parte do que sou eu.

Relógios se voam pro final do dia.
Carros que desesperam até cabeça fria.
Livros se desdobram e dobram às mesas.
Vozes que se surgem às suas maneiras.
Presença se faz com a alma e com vida:
lembrança que alerta a mente distraída.

Não há em voz alguma, em fio de cabelo,
em sombra e em paz, 
em nenhuma dessas rimas,
quem dirá em desespero.
Não há lar pra nós melhor que nosso peito.
Os relógios velozes, carros barulhentos,
livros quase não lidos, vozes e sentimentos
passam todos por nós pra marcar nosso tempo.
E em nós, por nós, nos marcamos. 

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